Apresentação


Publicado em 04.10.2018 11:38:16

Professoras e professores, a eleição do dia sete de outubro se aproxima e as últimas cartas estão sendo jogadas. As manobras e as manipulações estão aí: da grande mídia, de parte do alto empresariado, do judiciário e dos militares. Há poucos dias do pleito, ânimos se exaltam e a decisão do voto precisa ser tomada. Percebe-se, no entanto, o adensamento de um sentimento sombrio que carece da nossa reflexão.

Analistas políticos sérios, de esquerda e de direita, têm convergido em avaliações que dão conta de que o antipetismo é o norte destas eleições. É, basicamente, ao entorno deste sentimento – que parece ter se tornado uma espécie de valor, como respeito, honestidade etc – que o eleitorado vem se dividindo.

Nos últimos anos, especialmente a partir de 2013, o sentimento antipetista cresceu. Cabe avaliar, sucintamente, por quais razões isto se deu. O PT cometeu erros, pequenos e grandes, erros comuns a quaisquer partidos que experimentaram o poder e erros de estratégia e ação, erros de escolha. Parece-nos óbvio isto e não se pode negar. Mas a disputa política nacional tem se dado, talvez, não pelos erros do PT, mas, justamente, pelos seus acertos. Mais que isto, criou-se uma atmosfera de supervalorização dos problemas e erros em nome de uma disputa política, em nome da busca pelo poder.

Erros houve, mas decidiram levar o país ao buraco, numa lógica de “quanto pior, melhor” para se afirmar que os culpados de todos os males eram Lula e seus apadrinhados. Afinal, partidos e setores da sociedade que perderam quatro eleições seguidas e que por isso ficaram distantes do domínio da máquina pública – embora fossem os mesmos que sempre estiveram no poder, desde os tempos de um Brasil remoto – não mais admitiram que as urnas, que a vontade popular ditasse os rumos do país. Os sucessivos golpes havidos nos últimos dois anos nascem daí. Lembremos que, imediatamente após o resultado da eleição de 2014, quando Dilma Rousseff foi reeleita, o candidato derrotado, o senador Aécio Neves (PSDB), foi taxativo em dizer que a presidente não governaria. Depois, confessou o mesmo Aécio, pediu recontagem dos votos, pondo em dúvida a lisura do processo, apenas para “encher o saco do PT”. Eduardo Cunha, então presidente da Câmara dos Deputados, aprovou todas as pautas que levavam à ingovernabilidade e reprovou todos os pedidos de impeachment, até que o governo Dilma se opôs a ele, o que o levou a abrir o processo na Casa.

Sim, o PT errou, mas houve uma orquestrada campanha de construir a ideia de um inimigo único e comum a ser eliminado – algo típico do fascismo –, levada à frente pela grande mídia, por parte do parlamento, pelo alto empresariado, pelos militares e pelo judiciário. Lembremos da frase do também senador Romero Jucá, de que era preciso construir um acordão para o impeachment de Dilma e para a garantia do governo Temer, “com o Supremo, com tudo!”. O noticiário desta grande mídia se encarregou de despejar, dia após dia, na sociedade brasileira, um denuncismo infindável – de coisas reais e de fatos jamais comprovados, para gerar confusão e acirrar os ânimos da população –, destruindo mais do que reputações, destruindo qualquer possibilidade de unidade mínima entre o povo. A sociedade, que é audiência cativa dos grandes meios de comunicação e dos seus grandes conglomerados, foi, pouco a pouco, comprando a ideia de que havia um mal a ser extirpado do Brasil para que o país pudesse florescer: o PT. Era a estratégia, e a estratégia vem sendo seguida à risca, com a participação de diversos agentes do Estado e do setor privado.

Mas como, às vezes, o feiticeiro perde o controle sobre o feitiço, havia um efeito colateral não calculado. A criminalização da política e a construção de uma ideia de terra arrasada, como se houvesse um desgoverno completo, um descontrole institucional, abriram espaço para os oportunistas de plantão, dispostos a dar ao povo a solução fácil para a sua ira. Falsos heróis despontaram, no Ministério Público, na Justiça, no meio político.

É neste contexto que emerge uma figura como Jair Bolsonaro (PSL), um político de carreira (embora queira se vender como sendo diferente, outsider ou antissistema – não, ele não é nada disto!), que em 28 anos de parlamento aprovou apenas dois projetos, que jamais representou a sua base política, o Rio de Janeiro, pois nada de positivo fez pelo estado e por seu povo, que viveu e vive às custas do povo para nada fazer a não ser alimentar o revanchismo e o ódio, que tornou-se mestre em apresentar discursos vazios, populistas, sem nenhuma proposta concreta de país, que é defensor de uma ideia tosca de moralidade, sendo ele mesmo um imoral nas suas práticas, na vida privada e na vida pública. Mas, ante uma plateia que foi desumanizada, que acreditou que diante de tantos problemas a solução é o autoritarismo, que foi induzida à sede de vingança, o efeito colateral tomou conta do corpo e passou a ditar seus movimentos.

O conglomerado golpista queria a volta do PSDB ao poder – aquele mesmo partido que agiu contra o povo, contra o trabalhador, contra a soberania nacional, que foi aliado do golpe, que se uniu ao governo Temer para aprovar medidas jamais postas à prova nas urnas –, mas seu candidato, Geraldo Alckmin,  não decolou e, agora, tendo vendido ao povo a ideia de que a mudança era necessária, este mesmo conglomerado embarca na campanha fascista, não importando nada, apenas a tomada do poder e a possibilidade de colocar em curso suas medidas contra o povo. Usaram e usam o povo, mas são, na sua essência, claramente contra o povo.

A questão que se coloca diante de nós, agora, há poucos dias da eleição, é complexa. O antipetismo tem sido usado por muitos como argumento para votar em Bolsonaro, na falsa ideia de que ele proporcionará um país melhor. Poucos, muito poucos mesmo têm consciência do seu programa de governo e do que ele representa; poucos demonstram estar cientes de que ele votou favorável a todas as medidas que afetam negativamente a vida do povo (votou a favor do teto dos gastos públicos, a redução de recursos para educação, saúde e segurança; votou a contra a PEC das domésticas; votou a favor da “reforma” trabalhista, para retirar direitos dos trabalhadores e favorecer o empresariado);  poucos se dão conta de que ele é contrário às causas e necessidades das populações mais carentes, que ele está a serviço de parte da alta elite nacional, que ele pretende retirar direitos dos cidadãos e dos trabalhadores, que ele pretende privatizar o que ainda nos resta de patrimônio em benefício não do povo, mas daqueles que o patrocinam e o suportam, que ele está disposto a abrir mão da soberania do Brasil como nação e que pretende colocar o país no rol das nações que dispensam os tratados internacionais e suas obrigações. No entanto, a ideia de que qualquer coisa que não seja o PT é melhor parece estar se enraizando nas cabeças dos eleitores; a ideia de que é preciso autoritarismo para lidar com as questões nacionais, ao invés da ideia de que é preciso reforçar a democracia.

Para além disto, nesta reta final de campanha, constrói-se a falsa ideia de que existe uma polarização entre dois radicais, Haddad (PT) e Bolsonaro (PSL). Se nem o PT pode ser tratado como radical, porque Lula, sua figura maior, se notabilizou por ser um grande conciliador, Fernando Haddad muito menos pode receber esta pecha. Se há radicalismo, ele está expressado na figura de Bolsonaro, com seu liberalismo destrutivo, sua visão desrespeitosa e preconceituosa com relação a parte importante da sociedade, suas propostas que destroem com qualquer perspectiva de reconstrução do setor produtivo nacional e dos empregos, seu discurso de ódio e revanchismo, sua pauta contrária aos interesses do trabalhador.

Cabe, então, sugerir a reflexão para alguns pontos:

a)     Vele mesmo a pena, em nome da luta contra um partido que se tornou maldito por algo muito além do que os seus erros reais – maldição criada como parte do jogo político por aqueles que tinham e têm interesse em tomar o poder – colocar a perder seus direitos e garantias constitucionais, seus empregos e sua dignidade, aceitando a ideia de que teremos cidadãos de tipos inferiores, que sequer serão merecedores das garantias legais atribuídas a outros?

b)    Vale a pena, numa eleição em que o cardápio de opções é bem mais amplo – ninguém é obrigado a votar em Haddad se não gosta dele, mas não é obrigado a votar em Bolsonaro por não gostar de Haddad, como se alternativa não houvesse –, optar por aquele que não esconde suas intenções de atacar os trabalhadores e a própria ideia de cidadania e civilidade?

c)     Vale a pena assumir a responsabilidade pela destruição completa da ideia de civilização e alimentar uma barbárie que, sabemos, não nos levará a lugar melhor?

d)    Vale a pena, em nome do ódio ao PT, colocar em risco os direitos trabalhistas (os que ainda restam), a aposentadoria e todo o sistema de previdência social, o 13º salário e as férias, o patrimônio público e o respeito e a dignidade das minorias sociais, das pessoas com as quais você convive cotidianamente e de que você, provavelmente, é parte?

e)     Vale a pena, para atingir os figurões de um partido – que darão conta das suas próprias vidas ainda que saiam da política, que estão bem assentados – abrir mão dos seus próprios direitos e patrocinar o autoritarismo e a ditadura pela via do voto?

f)      Vale a pena, em nome de um ódio propositalmente implantado na sociedade, desconstruir qualquer senso de civilização e apoiar a barbárie e institucionalizar a violência?

g)    Vale a pena, em nome dos erros do PT, assumir que é melhor a destruição de tudo, sabendo-se parte deste tudo, sabendo que essa destruição, quando vier, não medirá os alvos e atingirá mesmo aqueles que optaram por ela?

h)    Em síntese, vale a pena colocar o seu futuro em jogo – seu emprego, seu salário, seu 13º salário e suas férias, seu acesso a serviços públicos (escolas, universidades, postos de saúde, hospitais), seu direito a comer e morar dignamente, sua aposentadoria e sua previdência social, sua condição de cidadania, com a garantia de direitos e liberdades que apenas a democracia é capaz – em nome da destruição de um partido político?

i)      Por fim, observando quem tem demonstrado apoio a Bolsonaro (os ruralistas; a indústria de armamentos e grupos que se opõem aos Direitos Humanos; os grupos que propõem a tomada das terras indígenas para o agronegócio e a mineração; empresas que desprezam a causa ambiental; entidades religiosas mais conservadoras e menos afeitas à pluralidade e ao respeito às outras formas de religiosidade; parte do alto empresariado nacional e, em alguns casos, internacional, interessados em precarizar ainda mais as relações de trabalho e retirar ainda mais direitos do trabalhador) como cidadãos e trabalhadores, será que os interesses destes grupos são mesmo iguais aos nossos?

Professoras e professores, o voto é um ato de consciência, é a sua voz numa democracia. O voto é seu, exclusivamente seu, e desta forma deve ser respeitado. Vivemos, porém, um momento dos mais críticos da nossa nação em construção, em que é preciso recobrar a racionalidade e avaliar que futuro queremos, de fato, para todos nós. Se há razões para a crítica a um partido – e há! –, é preciso fazê-la assentados na crença na democracia como valor, não na sua desistência e abandono, no diálogo como forma de exercício da cidadania, não no ódio como forma de ação política. O voto é livre e deve ser a expressão de uma vontade, bem como da forma como vemos o mundo e como o queremos. Como educadores, nos cabe questionar e alertar para os riscos – a história nos ensina – de decisões baseadas em um ódio proposital e numa proposital construção de um inimigo comum. Afinal, pense bem, o antipetismo vale a autodestruição?

 Bom voto!

 

Diretoria Colegiada
SINPRO-BA