Apresentação


Publicado em 19.06.2015 23:32:47

Causa-me perplexidade este “estranho silêncio obsequioso” instaurado nas ruas do meu país, e mais particularmente da minha cidade do São Salvador, em relação à violência urbana. Estamos inseridos num contexto onde a vida humana não é respeitada nem valorizada sob hipótese alguma, onde a vontade do bandido determina o momento, e mesmo assim, experimentamos um estranho sentimento de conformidade. Na noite desta quinta-feira, 18, assistimos a mais um episódio da violência diária que vem sofrendo a sociedade soteropolitana. Desta vez, a vítima foi a professora da rede particular de ensino, Anilene dos Santos Farias, 37 anos, assassinada durante um assalto no bairro de Nazaré.

A priori, tenho a sensação de que o povo em geral experimenta dos mesmos medos, porém, na maioria das vezes, vem a sensação de imobilidade, resignação, fato que, de certa forma aparece como um “bálsamo divino” que paralisa as ações e impede as reações em contrário. Tenho dificuldade em entender como chegamos a este ponto e, mais ainda, como a sociedade é volúvel em relação aos posicionamentos, às reivindicações e aos protestos.

Na condição de pai, fico projetando a dor dos familiares que passam por estas tragédias da vida moderna e não encontro palavras para traduzir o que os mesmos devem estar sentindo. Curiosamente, tenho a impressão que “a dor do outro” já não toca mais na maioria das pessoas e enquanto “os próprios umbigos” estiverem protegidos, danem-se os umbigos alheios.

A violência nossa de cada dia naturaliza o caos e nos coloca diante da completa ausência de sentidos, principalmente se o sujeito experimentar o dissabor de “estar na hora errada, no lugar errado”. A gratuidade da maldade nos impõe uma lógica vazia, que dissemina uma certa “nóia” na coletividade, até que a próxima ação maléfica se concretize, numa espécie de reality show da vida real.

Certa feita, o filósofo italiano Antonio Gramsci discorreu sobre a indiferença e numa das passagens, lançou a ideia de que a indiferença seria um peso morto na história e que a mesma atuava poderosamente no processo histórico. Sua indignação era muito clara na seguinte passagem: “quem verdadeiramente vive não pode deixar de ser cidadão, e partidário. Indiferença é abulia, parasitismo, covardia, não é vida”. (…)

Hoje, mais do que nunca, me sinto comovido, indignado e disposto a utilizar todas as minhas “armas”, que no caso, são palavras, para demonstrar como me sinto e como tenho disposição para lutar contra toda essa maldade que assola as nossas cidades. Continuo sem entender os motivos que levam os cidadãos em geral a não reagir. Prefiro “fazer a minha parte”, por mais que as correntes contrárias estejam afundadas nas profundezas da acomodação e do silêncio.

Por Rosival Carvalho, Professor e Diretor do Sinpro-BA.