Apresentação

O QUE SE PASSA COM A REDE PRIVADA DE ENSINO DA BAHIA?
Publicado em 30.07.2014 14:17:54

O recesso, a Copa, as festas juninas, nada parou o Sindicato dos Professores no Estado da Bahia (Sinpro-Ba), que insistentemente buscou avanços na negociação com o sindicato patronal que, por outro lado, não parece disposto a resolver. Na verdade, há muito tempo o que vemos é um Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino (Sinepe) calado, apático, indiferente e, portanto, cúmplice das irregularidades que as escolas vêm praticando. São inúmeras as maneiras encontradas por elas para burlar a nossa Convenção Coletiva de Trabalho, quando não, um descumprimento escancarado, não só da CCT, mas também da própria CLT.

Começamos o segundo semestre com uma ação política na porta de uma grande escola de Salvador, quando denunciamos os seus “(hi) atos pedagógicos”. Mas, essa escola é apenas uma amostra do quem vem acontecendo com a rede de ensino privado na Bahia. A ação é orquestrada e impõe uma degradante relação de trabalho bem como uma prática pedagógica irresponsável. Com exceção dos empresários, os demais envolvidos nesse processo de comercialização da educação se tornaram vítimas: professores, estudantes e famílias.

A média de alunos em sala de aula é de 40 no Ensino Fundamental e de 50 no Ensino Médio, contrariando todas as teses pedagógicas que defendem o desenvolvimento cognitivo dos alunos levando em consideração suas necessidades específicas. Essa realidade, de claro descompromisso pedagógico com os estudantes, retrata também a relação comercial abusiva com as famílias, que pagam valores altíssimos de mensalidades, bem como o desrespeito com os profissionais que utilizam sua voz como principal instrumento de trabalho.

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) divulgou recentemente dados de uma pesquisa internacional sobre ensino e aprendizagem. O desempenho do Brasil foi o pior em relação ao dos outros 30 países participantes. Conforme o levantamento, o percentual de tempo dedicado, efetivamente, à educação é de 67% no nosso país, enquanto a média internacional é de 79%. A pesquisa diz também que os docentes brasileiros gastam, em média, um quinto do tempo de aula para manter o bom comportamento dos alunos. Ora, como conter a inquietude natural de crianças e adolescentes em salas superlotadas?

Se esse tempo gasto com a indisciplina é um prejuízo pedagógico para os alunos e financeiro para as famílias, para os professores ele soma-se a outros ainda mais graves. O maior problema do professor hoje é o trabalho extraclasse. A maior parte do tempo dedicado à nossa profissão é gasto com correção de provas, preparação de aula, de projetos interdisciplinares e outras tantas atividades que elaboramos em nossas casas e que não somos remunerados. O pagamento do trabalho extraclasse é uma reivindicação antiga da categoria e é uma reivindicação justa.

Em outros tempos, pensar no trabalho do professor era pensar no famoso “cuspe e giz”, porém essa realidade ficou pra trás. O que se exige hoje é um professor pesquisador envolvido em projetos interdisciplinares, habilidoso com as novas tecnologias, preparado para a diversidade dos alunos de inclusão e tantas outras coisas às quais o profissional é obrigado a se adequar para garantir seu emprego. No entanto, o salário do professor não cresceu na mesma proporção da sua demanda de trabalho. O conservadorismo e a estagnação do patronal baiano ignoram esses fatos e insistem em não acolher o pleito dos professores quanto à remuneração das atividades extraclasse.

O pagamento do extraclasse é apenas uma dentre outras cláusulas da nossa pauta de reivindicações, a qual o patronal ignora. O Sinepe mantém a sua postura fechada para o debate de importantes pontos da nossa Convenção Coletiva. Na verdade, até agora não ocorreu negociação. O patronato continua irredutível e insiste em propor um reajuste de 6%, valor irrisório ante os lucros das empresas.

O patronal ainda lança mão de um discurso repetitivo, quando diz que se preocupa com o repasse do aumento para a mensalidade do aluno. É de conhecimento de toda a comunidade escolar que o reajuste das mensalidades ficou entre 10% e 15%. Os argumentos trazidos pelo patronal são insustentáveis. Se eles defendem que o reajuste é inviável, então, nos apresentem suas planilhas de custos.

Não acreditamos nesta justificativa, porque sabemos que a expectativa dos donos de escola quanto ao índice de inflação foi bem acima dos 5,82% apontado pelo INPC. Estes estabelecimentos têm seus recursos e reajustaram suas mensalidades muito acima do que nos oferecem.

A desmoralização da nossa classe por parte desses empresários não para por aí. Os péssimos salários e as más condições de trabalho são apenas alguns dos absurdos que temos acompanhado na educação privada na Bahia. O assédio moral deixou de ser velado. Muitos diretores de escolas perguntam aos novos professores contratados se eles são sindicalizados e fazem disto uma condição para a contratação ou não.

Para os professores antigos, primeiro a intimidação – perseguição, advertências arbitrárias, redução de turmas, exigência do uso de módulos padronizados de conteúdo questionável – depois a demissão.

A retaliação política é o principal motivo para as demissões. A maioria dos professores demitidos são aqueles historicamente mobilizados, questionadores e presentes em assembleias, paralisações e greves. A substituição de professores antigos por professores novos é mais uma estratégia para silenciar a categoria. Essas demissões prejudicam diretamente o professor, mas atinge também os alunos e destrói a própria identidade da escola, que obcecada por calar os professores, paga o preço de perder profissionais de competência inquestionável. A relação de empatia entre estudantes e docentes sempre foi um dos fatores determinantes na permanência dos alunos na escola.

Angústia, medo, impotência e desmotivação não são sentimentos saudáveis para docentes que entendem a escola como um espaço comprometido com a formação ética e humana de seus alunos. As práticas aqui denunciadas se tornaram padrão nas escolas baianas e, por isso, não podemos ser indulgentes com elas, sob pena de nos tornarmos cúmplices. Há algo de errado com o ensino privado na Bahia. Há algo de errado com esta escola que o seu filho estuda.

DIRETORIA COLEGIADA SINPRO-BA
DATA BASE 2014/2015