Apresentação

Desrespeito e rebeldia são apontados como comportamentos mais prejudiciais em sala
Publicado em 04.07.2014 11:50:00

 

Ag. A TARDE | Margarida Neide | 25/06

Docentes brasileiros gastam, em média, um quinto do tempo de aula para manter o bom comportamento dos alunos. Isso significa que, a cada cinco minutos de ensino, um é dedicado à medida disciplinar.

Os dados são de 2013 e fazem parte da Talis, uma pesquisa internacional sobre ensino e aprendizagem, que, no Brasil, é coordenada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

O desempenho do Brasil foi o pior em relação ao dos outros 30 países participantes. Conforme o levantamento, a média geral foi de 13%. Já o percentual de tempo dedicado, efetivamente, à educação é 67% no país, enquanto a média internacional é 79%.

Ainda segundo a pesquisa, 12% do período de cada aula é utilizado pelo professor para lidar com questões administrativas, como o controle de presença (chamada). A média de tempo gasto com a administração da aula nos países participantes é de 8%. Na Finlândia, essas atividades correspondem a 6% do período.

Para o presidente do Inep, José Francisco Soares, as escolas precisam se adaptar ao que ele chama de novo aluno. “Aquele aluno que respeitava o professor ficou para trás. Atualmente, o alunado é muito mais variado, e a escola precisa se adaptar”, afirmou.

Causas

Segundo Ana Cláudia Alencar, coordenadora pedagógica do Instituto Municipal José Arapiraca, escola pública de Salvador, as ocorrências de rebeldia e desrespeito às aulas são diárias.

Para a psicopedagoga, um dos principais motivos para tal indisciplina é a ausência dos pais no processo de educação familiar. “É preciso impor limites. Entretanto, eu recebo pais que trabalham o dia inteiro e deixam o filho caçula aos cuidados do irmão”, conta Alencar.

Ainda conforme a psicopedagoga, o comportamento é extremamente prejudicial. “Os professores têm que parar a aula em vários momentos. A escola não pode cumprir todas as etapas da educação, é preciso que a família contribua”, acrescentou.

Professora do terceiro ano do ensino fundamental na escola Ivone Vieira Lima, no subúrbio, Maria das Graças Lemos, 56 anos, diz que o que mais a surpreende é a falta de respeito com o docente.

“Há alunos que nos ignoram, respondem mal, desobedecem e até falam palavrões em sala”, afirmou.

Segundo ela, em média, 60% dos alunos de cada turma para a qual ensina são indisciplinados. Entretanto, Maria das Graças observa que o trabalho com jogos tem facilitado o aprendizado e melhorado o comportamento das crianças. Indisciplina não é o principal problema, diz sindicato

Para Cristina Souto, diretora do Sindicato dos Professores da Bahia (Sinpro-BA), a indisciplina não é o principal problema do professor.

Segundo ela, o mau comportamento também ocorre em escolas particulares, pois está relacionado muito mais à faixa etária e à inquietude do que à classe social. Entretanto, a sindicalista afirma que o profissional já deveria estar preparado para essa adversidade. “O professor está ali para isso. Ele é um
educador, não está em sala de aula apenas para passar conteúdo”, diz.

Para Cristina, o maior problema do professor é o trabalho extraclasse e o excesso de alunos nas turmas. “Perdemos muito mais tempo com correção de provas, preparação de aula e de projetos interdisciplinares; atividades que não são remuneradas”, reclama.

Ainda conforme Cristina, é difícil administrar turmas com 40 estudantes. “O ideal seria que cada sala concentrasse, em média, 20 alunos”, acrescenta.

Hora aula

Ainda de acordo com a pesquisa, os professores brasileiros estão entre os que passam mais tempo por semana ensinando. Em média, são 25 horas semanais, seis horas a mais do que a média dos países participantes (31, incluindo o Brasil).

Cristina diz que o professor da rede particular de ensino tem um piso salarial de R$ 5,80 por hora/aula. “Somos muito mal remunerados. Existem professores que trabalham 60 horas por semana para alcançar o salário ideal para se manter”, afirma.